Durante palestra de abertura do South By South West em Sydney, Teddy Swims declarou que integra inteligência artificial ao seu fluxo de trabalho, gerando reação imediata entre produtores e fãs do soul pop que o alçou à indicação de Artista Revelação no Grammy 2025. O cantor de 33 anos expôs casos concretos: alteração de palavras isoladas em gravações já finalizadas, simulação de arranjos country ou rock a partir de uma demo acústica e, de forma mais polêmica, uso de sua voz sintetizada por terceiros, situação que o obrigou a negociar direitos sobre timbres que, em tese, lhe pertencem.

    O uso de IA por Swims insere-se em uma rotina que já conta com composições assinadas ao lado de Julian Bunetta, John Ryan e outros nomes da ponte entre pop e R&B norte-americano. O repertório do EP anterior ultrapassa 1,2 bilhão de streams no Spotify, enquanto “Lose Control” subiu para o Top 10 da Billboard Hot 100, números que tornam qualquer economia de horário em estúdio estratégica. Segundo ele, a substituição de uma palavra por modelo vocal reduz o custo de uma retócada em até 80%, dispensando deslocamentos ou reabertura de janelas de mixagem. A mesma tecnologia permite testar versões alternativas sem sobrecarregar músicos de sessão: basta gravar o riff de violão, exportar o stem e aplicar estilos com base em redes treinadas com catálogos de Nashville ou Los Angeles.

    A prática, contudo, esbarra em limites legais ainda fluidos. Ao tentar incorporar uma demo que usava sua voz clonada, Swims ouviu do detentor do arquivo que precisaria pagar pelo direito de usar “Teddy Swims” como marca sonora. O episódio ilustra o paradoxo enfrentado por artistas que, ao mesmo tempo, se beneficiam da IA e questionam a autonomia sobre sua própria identidade vocal. Produtores australianos presentes no paine lembraram que a Associação Australiana de Música já discute taxação de modelos que repliquem timbres locais, ecoando debates globais sobre direitos conexos. Enquanto isso, gravadoras como Warner testam ferramentas de IA em parceria com Suno, sinalizando que o protocolo de Swims tende a se expandir, não apenas para micro-ajustes de letra, mas para prototipagem de gêneros inteiros sem sair do laptop.

    Fora do estúdio, a declaração reforça a percepção de que o mercado pop está migrando de uma fase experimental para implementação cotidiana de modelos generativos. Engenheiros de som relatam que a voz de Swims já foi usada como dataset em plug-ins que corrigem entonação em tempo real, enquanto empresas de sample libraries vendem pacotes de frases “Teddy-style” para beatmakers. O fenômeno coloca em pauta a necessidade de transparência: se o público cultua a interpretação emocional do vocalista, ele deve saber quando um trecho foi regenerado por algoritmos? Por ora, Swims equilibra custos, agilidade e autenticidade, admitindo que a ferramenta economiza tempo, mas não substitui a intenção que move a canção.