A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga como feminicídio o duplo homicídio ocorrido na tarde da última sexta-feira (28/11) dentro do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), no Maracanã. A diretora acadêmica Allane de Souza Pedrotti Matos, 41 anos, e a psicóloga escolar Layse Costa Pinheiro foram baleadas com pistola Glock calibre .380 e morreram no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. O autor, o técnico-administrativo João Antônio Miranda Tello Ramos, 38, foi encontrado morto minutos depois em sala adjacente; ao lado do corpo havia a arma registrada em seu nome e dezenas de munições, indicando suicídio.
João possuía Certificado de Registro de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC), categoria que autoriza a compra de armamento de uso restrito. A Glock foi adquirida legalmente e estava em seu nome desde 2022, segundo registros da Polícia Federal. Testemunhas ouvidas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) relataram que ele chegou ao campus pela manhã, cumprimentou funcionários e, por volta das 14h30, entrou na Diretoria de Ensino. Allane foi atingida por dois disparos na cabeça e no ombro; Layse levou três tiros na cabeça e no tórax. Ambas foram socorridas, mas chegaram ao hospital sem vida.
A linha de investigação privilegiada é a de feminicídio. Depoimentos coletados ao fim de semana mostram que João manifestava reiteradamente não aceitar ordens de mulheres e mantinha postura hostil com superiores hierárquicas do gênero. A DHC apura, portanto, se o crime foi motivado pela condição de gênero das vítimas, configurando o art. 121, § 2º-A, do Código Penal. O inquérito solicita ainda perícia em notebooks e celulares apreendidos na casa do autor, na Zona Norte, para verificar mensagens ou manifestações que reforcem essa tese.
Allane foi sepultada no domingo (1º) no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência; Layse, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. O Cefet decretou luto oficial e suspendeu as atividades acadêmicas no fim de semana. Professores e alunos organizam atos em homenagem às servidoras e entregaram à direção uma lista de reivindicações que inclui instalação de detectores de metais e escolta armada na entrada do campus. A Polícia Civil informou que o laudo de balística e o exame de DNA que confirmam a autoria devem ficar prontos em até 30 dias.